Depois do quiet quitting, uma nova tendência de RH surge no horizonte: o quiet hiring, ou contratação silenciosa. Mas do que se trata essa prática, afinal? E como ela funciona?
Além da onda de layoffs e da recessão, os líderes de recursos humanos estão enfrentando desafios históricos: ao mesmo tempo que enfrentam mudanças tecnológicas, geracionais e sociais, eles precisam lidar com uma força de trabalho exausta e uma grande pressão para conter custos. Segundo especialistas, a contratação silenciosa surge como uma resposta para que as pessoas adquiram novas habilidades e capacidades sem que a organização precise necessariamente contratar novos funcionários.
Uma das maneiras de praticar o quiet hiring é realocar os talentos internos, o que abre espaço para uma outra forte tendência nas empresas, o investimento em upskilling e reskilling como forma de requalificar e dar novas competências aos talentos internos.
Ana Tomazelli, psicanalista, mentora de carreiras e executiva de RH, explica que esse movimento atende tanto às aspirações de carreira do profissional quanto às necessidades da empresa. “A ideia tem a ver com o momento atual: há vagas congeladas, o que impede novas contratações, mas é possível investir no profissional que já está no quadro e quem sabe promovê-lo mais para a frente. Isso implica em aumentar os desafios, investir em treinamento e direcionar um olhar de cuidado para o profissional”, afirma ela.
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De forma mais estratégica, se bem feito, o quiet hiring também pode ser um aliado do employee experience, que reconhece a fase em que o funcionário se encontra em sua jornada profissional e cria experiências personalizadas para que ele possa desenvolver sua carreira e ter a melhor relação possível com a empresa.
Pode-se dizer também que a contratação silenciosa é uma prática para testar trabalhadores em posições mais altas. O cuidado que se deve tomar é com a juniorização. Para Ana, isso acontece quando se vê que as empresas estão apenas com coordenadores em vagas gerenciais, por exemplo. Ou seja, pessoas ocupam cadeiras altas sem ter o cargo ou a remuneração adequada.
“Não é de hoje que as corporações precisam de funcionários coringas e polivalentes. Para isso, é feito um mapeamento das posições-chave. Uma só pessoa consegue tocar eventos, fazer pesquisas e escrever relatórios? É interessante para a empresa investir nela. Geralmente, esse trabalhador cobre uma multiplicidade de temas que, nas próprias férias, precisa ser coberto por mais de uma pessoa”, explica a executiva.
Para Ana, tudo que vem com ‘quiet’ na frente atesta a nossa incapacidade de diálogo, principalmente quando falamos de cargos mais altos. “Vale refletir sobre o uso do termo para entender se não estamos deixando de falar sobre um problema e, assim, deixando de resolver a causa. Isso pode produzir outro sintoma”, reflete a especialista.
O quiet hiring tambémpode ser uma maneira de responder ao quiet quitting e ao movimento apelidado de The Great Resignation, ou A Grande Renúncia, em português.
Investir no profissional é uma forma de retê-lo, deixando-o mais estimulado, e desonerar a companhia dos custos de novas contratações. É um jeito de valorizar quem performa bem, enquanto o orçamento não aumenta. Além disso, apostar no funcionário pode aumentar a retenção, o engajamento e a produtividade – além de ser um jeito de identificar profissionais que já estão indo além do que lhe é exigido.
Assim, o funcionário começa a ser considerado para futuras posições e sente que a empresa está olhando para ele e testando suas habilidades.
A contrapartida para os trabalhadores, no entanto, é a ansiedade e a insegurança: como saber se será ou não promovido nesse contexto?
“Por isso, não é correto prolongar essa situação por muito tempo. Isso é ilegal. E a relação de trabalho é uma troca por dinheiro e benefício. O funcionário vende um conhecimento por uma determinada hora de trabalho. Se ele está vendendo muitos conhecimentos pelas mesmas horas de trabalho, a conta não fecha. Ao empilhar as atribuições descobrimos que estamos trabalhando mais do que deveríamos”, alerta Ana Tomazelli.
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Embora existam ressalvas, existem alguns benefícios que o colaborador pode colher com o processo quiet hiring. Listamos alguns deles:
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