As mudanças no mercado de trabalho, aceleradas nos últimos anos, têm trazido um novo olhar para a mentoria nas empresas. O conceito vem se ampliando para dar conta das necessidades de um mercado volátil, híbrido, cada vez mais diverso e digitalizado.
Não é raro encontrar equipes formadas por funcionários de quatro gerações (boomers, X, millennials e Z), com bagagens pessoais, sociais, econômicas, culturais, acadêmicas e profissionais bastante distintas. Todos submetidos a uma rotina em que é constante a necessidade de se adaptar a novas tecnologias, processos e condutas.
Com isso, as figuras do mentor e do mentorado sofrem modificações. Além do profissional experiente orientando um jovem talento em sua trajetória até a liderança, vêm surgindo várias outras possibilidades de olho no desenvolvimento de power skills, por exemplo.
Neste contexto, a mentoria se tornou uma ferramenta eficiente, econômica e segura para aproximar funcionários virtuais da cultura empresarial; implementar e consolidar políticas de diversidade e de inclusão (um dos principais pilares da agenda ESG); e orientar jovens inexperientes em posição de chefia a se relacionarem com seus funcionários.
“Estamos vivendo uma mudança de era. Nesse mundo pós-digital, se demoramos muito para assimilar uma ideia, rapidamente ela se torna obsoleta”, explica Allan Pimenta, gerente sênior na Natura&Co e Top Voice do Linkedin. “Profissionais recém-promovidos, contratados ou que simplesmente precisam entregar um turnaround de resultados podem ter essa curva de aprendizado acelerada com apoio de um profissional mais maduro. É um investimento que aumenta muito as chances de sucesso.”
Desde 2019, a PepsiCo conta, no Brasil, com um programa de mentoria para negros e negras para “fomentar a diversidade da força de trabalho e criar um espaço colaborativo, equitativo e inclusivo onde todas as pessoas possam ser quem são e alcançar seu máximo potencial”, explica Carlos Domingues, gerente de cultura, D&I e EVP.
No programa, os participantes da mentoria têm “sessões mensais virtuais e/ou presenciais em que podem desenvolver suas competências, ampliar seus conhecimentos e sua rede de relacionamentos, explorar novas formas de atuação e ter suporte para tomadas de decisões dos desafios atuais e sobre construção de possibilidades para desafios futuros, contribuindo assim para que possam traçar caminhos de desenvolvimento e ocupação de cargos de liderança dentro da PepsiCo”. No ano passado, foram 40 mentorados na companhia.
Ao expandirem os programas de mentoria, antigamente restritos a líderes e futuros líderes, as empresas conseguem de quebra diminuir o turnover, acreditam os executivos.
“Dois dos principais fatores de engajamento interno são desenvolvimento e aprendizagem, e o programa de mentoria oferece esses atributos, o que é fundamental para fortalecer nossa cultura de desenvolvimento e ampliação de possibilidades de carreira para nossas pessoas”, diz Domingues, acrescentando que grande parte dos participantes foram promovidos(as) após a mentoria.
“A iniciativa é importante, pois além de desenvolver nossas pessoas, ela nos ajuda no engajamento desses talentos na PepsiCo, o que consequentemente impacta no crescimento do nosso negócio. Além disso, torna o nosso ambiente de trabalho mais diverso e inclusivo, o que também é um dos nossos objetivos”.Carlos Domingues, gerente de cultura, D&I e EVP
Já Pimenta, da Natura&Co, lembra que “8 em cada 10 profissionais não se demitem das empresas, mas de seus chefes. Logo, um gestor que tem consciência do seu papel e ‘patrocina’ um programa de mentoria, que apoia o desenvolvimento do liderado, ganha muito engajamento do time”.
Mentoria é uma prática corporativa em que um profissional com amplo domínio sobre determinados assuntos, processos, vivências auxilia um funcionário da empresa (ou um grupo de funcionários) a desenvolver habilidades e conhecimentos necessários para encarar desafios e situações similares, compartilhando o que aprendeu em sua própria jornada.
O mentor pode tanto ser um líder ou funcionário experiente da casa quanto um profissional de fora, contratado especificamente para este fim. Nos dois casos, é fundamental que tanto o mentor quanto o mentorado estejam comprometidos com o processo.
“Para dar certo, a mentoria pressupõe o estabelecimento de um vínculo de confiança e empatia. Deve ser um espaço seguro e sigiloso, onde o mentorado possa se abrir, trazer suas inquietações, dúvidas e dificuldades sem medo de sofrer represálias ou de ter sua carreira afetada na empresa. Por outro lado, é fundamental estar aberto para ouvir outras perspectivas e se permitir ser mentorado, para não achar que está sofrendo micro management”, explica Diego Bonaldo Coelho, professor da FIA Business School.
Tradicionalmente, para ser mentor era necessário possuir uma trajetória longa dentro do seu campo de atuação no mercado. Atualmente, o tempo de estrada deixou de ser requisito básico, dependendo da finalidade da mentoria. Em geral, são considerados:
É fundamental, ainda, ser alguém qualificado para tratar as questões a serem abordadas com propriedade e empatia, para capacitar o mentorado a enfrentá-las e gerar confiança. Ao compartilhar suas experiências, o mentor ajuda o mentorado a organizar suas ideias, baixar sua ansiedade e encontrar saídas. Ele também orienta sobre comportamento, postura e relacionamento profissional.
Muitas pessoas confundem mentoria com coaching, no entanto, são processos bem distintos, com objetivos diferentes.
“O mentor não é coach, sua função não é motivar, reprogramar ninguém. É compartilhar, debater, construir junto, orientar, ensinar. Não é um processo rápido, de três dias. Fuja de programas de imersão, isso não é mentoria”, opina Coelho.
A mentoria pode ter uma série de finalidades, como:
Segundo Pimenta, embora haja diversos tipos de mentoria atualmente, há essencialmente duas opções:
Nessa modalidade, algumas pessoas com buscas similares se reúnem sob a orientação de um mentor com larga experiência naquele tema para buscar juntos uma solução, discutindo os problemas, as inquietudes e as oportunidades reais. Com isso, constroem seu próprio plano de ação e aprendem, se conectam e se inspiram nas histórias de outras pessoas que estão vivendo um momento parecido.
É quando um mentor apoia de forma exclusiva um mentorado, sempre com sigilo e cuidado personalizado. Nesta modalidade também podemos ver várias formas de atuar, por exemplo:
Mentor tradicional: o mentor ouve e entende o que o mentorado busca e, com sua experiência, constrói com o mentorado o plano de ação, mas não participa da execução.
Tutor: neste caso o mentor, além de construir o plano junto do mentorado, acompanha de perto a execução e, se precisar, “pega na mão” e faz junto.
Conselheiro: aqui, o mentor ouve com atenção, entende o contexto e aconselha a partir de sua experiência. Mas o plano de ação e a tomada de decisões são 100% responsabilidade do mentorado.
Embora, na essência, a função da mentoria virtual seja a mesma da mentoria real, à distância o mentor precisa desenvolver métodos para conseguir captar detalhes que normalmente são observados presencialmente - como a comunicação não verbal. “Deve utilizar técnicas e ferramentas como assessments, pesquisas, entrevistas de profundidade”, opina o gerente sênior da Natura&Co. “Do lado do mentorado, a necessidade é quase a mesma, vontade de se transformar, qualidade da presença, compromisso com a verdade, disciplina de execução e dedicação ao programa”, finaliza.
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