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Se de um lado os profissionais estão satisfeitos com trabalho remoto—pesquisa da FEA-USP mostra que 78% dos entrevistados querem manter o home office independentemente do cenário pós-pandemia —, do outro as interações nunca foram tão importantes.
E aí surge a pergunta: como fica o happy hour no mundo pós-pandêmico? Nosso time decidiu ouvir especialistas para entender como fica questão sem a obrigatoriedade da presença no escritório.
Se antes a confraternização era restrita ao bar pós-expediente, hoje o happy hour nas empresas acontece de maneira mais casual e sem aquela obrigação de ter de comparecer para “não ficar chato”. “A maioria das pessoas se adaptou ao trabalho remoto, mas passou a valorizar muito mais as relações humanas e os encontros sociais e descontraídos. Seja um encontro para um café, uma troca de ideias ou aquele almoço de fim de semana”, afirma Danielle Guimarães, analista de RH e tech recruiter.
Confira, a seguir, como essas mudanças no happy hour também têm transformado as relações entre colegas de trabalho.
O happy hour tradicional, com encontro de colegas após o horário de trabalho para tomar uma cervejinha no bar, não acabou, mas segue em baixa. Segundo a Abrasel (Associação Brasileira de Bares e Restaurantes), não existem dados específicos com relação a esse tipo de confraternização, mas a estimativa de que 30% dos bares ainda operam no prejuízo é um sinal de que a retomada total não aconteceu.
A questão do happy hour varia de acordo com a cidade onde o bar está: praia é diferente de um grande centro urbano. Este ano também não deve ter mais uma vez o horário de verão que beneficiava os bares e restaurantes”, afirma José Eduardo Camargo, líder de conteúdo e inteligência da Abrasel.
No Jacaré, bar localizado na Vila Madalena, tradicional bairro de bares e happy hours de São Paulo, o encontro pós-expediente perdeu espaço para outras versões de confraternização. “Temos mais procura de almoços corporativos, que acabam estendendo o horário. As reservas para o happy hour são bem menores se compararmos os dois”, conta a gerente Jacqueline Maldien.
Além dos almoços e cafés da tarde, encontros casuais do dia a dia também têm funcionado como alternativas para manter os vínculos ou fortalecer as relações com os colegas de trabalho.
Letizia Gilioli, 25 anos, é analista de consultoria de gestão e mudou de emprego no meio da pandemia. Ela conta que, no último semestre, quando as visitas presenciais ao escritório se tornaram mais frequentes, ela e os colegas têm aproveitado oportunidades rotineiras para se conhecerem melhor. “Vez ou outra a equipe para em algum lugar para conversar e esperar o trânsito baixar.”
De comemoração informal, o happy hour nas empresas também passou a ser uma ferramenta de socialização entre colaboradores e equipes que estão em teletrabalho. E deu origem ao happy hour online.
Na Infracommerce, empresa que oferece soluções digitais para e-commerces, o happy hour ganhou um formato virtual no primeiro ano de pandemia. “Entregamos os kits com os ingredientes nas casas das pessoas, preparamos juntos os drinks e bebemos simultaneamente, cada um em sua casa, com música ao vivo na live”, conta Paula Traldi, VP de RH e ESG na empresa.
Em dezembro de 2021, a empresa fez um evento presencial com grupos pequenos, mas algumas pessoas pegaram COVID e ele foi suspenso. Até que, em junho deste ano, a empresa retornou ao modelo presencial com 1/3 do total de funcionários. “O retorno foi tão positivo que decidimos mantê-lo, juntamente com o ''Aniversariantes do Mês’”.
Os novos formatos de confraternização profissional trazem, além dessa interação mais despretensiosa, a liberdade de escolha para participar ou não desses encontros. “A obrigação de participar caiu de vez”, diz Graziele Piva, fundadora da Youniq RH.
Com o home office e o trabalho híbrido, as pessoas se sentiram livres da obrigação de comparecer aos eventos para “cumprir tabela”, segundo a especialista. Quem não se sente confortável com esse tipo de reunião não se vê mais “obrigado” a comparecer. E, por isso, ela considera que a interação tem ficado cada vez mais genuína.
Como o trabalho segue home office, a Valtech, agência digital global focada na transformação de negócios, preferiu manter seu evento de confraternização 100% online.
Em datas comemorativas, para estimular a participação, a empresa faz brincadeiras e concursos. Na celebração da Festa Junina e do Halloween, por exemplo, os colaboradores enviaram fotos vestidos à caráter e, os mais votados, foram premiados.
Essas novidades engajaram a equipe e a cada evento o número de participantes foi aumentando. “Quando as pessoas estão realmente dispostas a ir a esse tipo de evento, elas vão com mais engajamento. Porque agora virou um acontecimento, quase um ritual de cultura”, ressalta Grazi Piva.
Com base neste novo contexto, confira dicas de como adaptar o evento para as necessidades da sua empresa:
1. Experimente outros formatos
Buscar formatos que fujam ao tradicional pode ser uma forma de renovar o interesse dos colaboradores. Cafés da manhã em equipe e almoços especiais em restaurantes, por exemplo, também podem funcionar como alternativas interessantes para os eventos presenciais.
2. Busque formas diferentes de engajar
Para alguns colaboradores, ter que participar de eventos corporativos pode ser um verdadeiro suplício. É preciso entender o perfil das equipes e buscar alternativas que se adequem aos seus colaboradores. “Os RHs precisam se especializar em linguagem humanizada para saber como conduzir e não ficar exaustivo. Tem de pensar em saúde mental antes de só falar que tem o programa para cumprir tabela”, ressalta Grazi Piva.
3. Foco no clima organizacional
Vale lembrar que o happy hour pode contribuir para um bom clima organizacional, mas não é tudo. “Ele depende de muitos outros fatores na relação empresa-profissionais, como a oportunidade de participar, co-construir, desenvolver autonomia, ter lideranças que dialogam, entre outros”, afirma Jacqueline Resch, da Resch Recursos Humanos.