O segundo semestre é a época mais movimentada do ano quando o assunto são processos seletivos para programas de trainees.
Na briga para atrair os melhores talentos, além dos salários competitivos, empresas estão apostando em pacotes de benefícios robustos e práticas de diversidade e inclusão.
“Os programas de trainees são uma forma valiosa para as empresas encontrarem e nutrirem novos talentos”, explica Paula Esteves, co-CEO do Grupo Cia de Talentos, que há mais de três décadas conecta talentos às principais vagas no Brasil e na América Latina.
“Ao mesmo tempo em que fornecem uma oportunidade para jovens profissionais acelerarem suas carreiras e adquirirem experiência prática no ambiente corporativo”, completa a especialista.
Confira a seguir tudo o que sua empresa precisa saber para criar uma estratégia de benefícios atraentes para trainees e como gigantes como Ambev e Alcoa estão inovando na hora de atrair novos talentos.
No Brasil, os programas de trainee começaram a se popularizar a partir dos anos 80. Mas a origem deles remonta aos Estados Unidos dos anos 50, no período pós Segunda Guerra Mundial, quando empresas começaram a criar programas de aceleração de carreira chamados de fast-track. A ideia, desde sempre, foi atrair talentos para tornar as organizações mais competitivas.
Em linhas gerais, os programas de trainee têm, geralmente, até dois anos de duração e contam com um processo intensivo de treinamento, capacitação e rotação dos profissionais em diferentes áreas das organizações.
“Esses programas também podem ser uma via de entrada para posições de destaque dentro da empresa após a sua conclusão, dependendo do desempenho e adequação do trainee às necessidades da organização”, explica Paula.
Apesar do foco em recém-graduados, os programas de trainees são comumente confundidos com processos seletivos de estágio. Mas muitas são as diferenças.
A começar pelo fato de que o estagiário tem seu contrato de trabalho regido pela Lei nº 11.788, conhecida como Lei do Estágio, de 25 de setembro de 2008, e seu trabalho é considerado um ato educativo escolar supervisionado, com carga horária restrita.
Já o trainee é um funcionário efetivo, graduado há, no máximo, dois anos, e que após o período de treinamento pode assumir um posto de liderança ou função técnica sênior.
Para jovens profissionais, uma das principais vantagens de participar de um programa de trainee é desenvolver habilidades comportamentais e técnicas muito desejadas pelo mercado de trabalho.
Por outro lado, para as empresas, é um caminho importante para a formação de futuras lideranças. Confira outras vantagens:
Com tantas vantagens, não é de se estranhar que o número de empresas que apostam nessa iniciativa de recrutamento não pare de crescer.
Segundo o site Seja Trainee, que mapeia vagas no segmento, em 2020, 170 empresas abriram vagas para selecionar trainees – 36% a mais que em 2019. E em 2021, esse total saltou para 185 oportunidades, um novo recorde
Durante muito tempo os processos seletivos de trainees focavam em profissionais com perfil parecido: fluentes em idiomas e com vivências internacionais, por exemplo.
Mas, desde a pandemia, esse perfil de candidato deu lugar a uma valorização de profissionais que se destaquem em competências comportamentais como adaptabilidade, capacidade de inovar.
Além disso, perfis diversos e com diferentes tipos de bagagem pessoal e profissional, ganharam força nas organizações.
Ao mesmo tempo em que o perfil do trainee mudou, a proposta de valor oferecida pelas companhias para esses jovens profissionais também se adaptou aos novos tempos.
Prova disso é que a flexibilidade conquistou espaço entre os principais benefícios oferecidos pelos programas de trainees.
“O mercado tem oferecido benefícios como horário flexível, trabalho híbrido, cartões de benefícios flexíveis, que permitem que as pessoas utilizem o saldo em diversos estabelecimentos”, diz Paula.
Uma coisa que não mudou, entretanto, é a necessidade de o programa de trainee contar com ações de desenvolvimento como coaching, mentoring, rotação entre áreas e apoio com educação. Ou seja, um mix que envolve pacote de benefícios e possibilidade de crescimento profissional.
Uma pesquisa recente da Cia de Talentos comprova essa importância. No estudo, que entrevistou centenas de trainees e ex-trainees, 34% disseram que esperavam ter um bom plano de desenvolvimento/formação durante os programas.
Em seguida, apareceu o desejo de ter uma visão ampla de negócio/grande empresa (19%) e assumir um cargo de liderança rapidamente (16%).
“Portanto, ser uma empresa atrativa para perfil de trainee significa investir no desenvolvimento e na formação profissional. Os jovens querem ter o domínio de habilidades necessárias para a sua atuação e segurança de que estão preparados para os desafios do presente e do futuro”, ressalta a co-CEO da Cia de Talentos.
Outro ponto relevante é investir em comunicação, para aproximar os participantes da cultura organizacional da companhia. Ou seja, é importante mostrar quais são os valores da empresa, como é o dia a dia, práticas e benefícios diferentes, por exemplo.
Paula explica que investir nesse tipo de prática para reforçar o employer branding permite atrair talentos aderentes às necessidades da organização.
“Porém, é preciso cuidar de dois pontos: alinhar as expectativas do público com a experiência oferecida pela empresa, de fato, e fazer uma comunicação assertiva sobre a marca empregadora”, alerta a especialista.
É quase impossível falar de programa de trainee sem lembrar da Ambev que, há 15 anos, realiza uma das mais tradicionais (e concorridas) seleções do mercado. Só que o que muita gente não sabe é que o programa da cervejaria passou por mudanças profundas nos últimos anos.
Segundo Ilana Kern, diretora de Atração e Desenvolvimento de Gente da Ambev, a mudança veio na esteira da transformação da própria empresa, que hoje é parte da multinacional Anheuser-Busch InBev, a maior produtora de cervejas do mundo.
“Saímos do lugar de uma empresa que sabe tudo, para uma empresa que aprende tudo. Hoje, somos uma plataforma com diversos negócios, que facilita a conexão entre as pessoas e gera crescimento compartilhado para todo o nosso ecossistema. Todas essas mudanças também são percebidas no nosso Programa de Trainee”, diz a executiva.
Uma das mudanças mais significativas é a busca por uma seleção que valorizasse a diversidade, algo que começou a ser fortemente trabalhado na companhia nos últimos anos.
Como reflexo disso, a Ambev deixou, por exemplo, de limitar a escolha dos candidatos a trainee por curso ou instituição de ensino. Também deixou de exigir testes de inglês — quem não domina a língua pode aprender depois de contratado, por meio de cursos oferecidos em parceria com escolas de idiomas.
“Nós buscamos pessoas com experiências diversas, que vão agregar novas competências para a companhia. Queremos, sobretudo, quem seja curioso, tenha um perfil ambidestro e colaborativo", diz Ilana.
"Ou seja, pessoas capazes de desenvolver uma nova estratégia, mas também executá-la. E claro, candidatos que se identifiquem com a nossa cultura e queiram construir um futuro com mais razões para brindar”, completa.
Como não poderia deixar de ser, o programa da Ambev é bastante focado no desenvolvimento dos trainees para que eles assumam desafios dentro da cervejaria. Ilana explica que os jovens recebem treinamentos sobre assuntos como liderança e competências humanas, como práticas de colaboração e inovação em grupo.
O pacote de benefícios também é robusto e, entre os diferenciais, está a possibilidade de participar de um programa de networking, no qual os trainees conhecem unidades da Ambev de diferentes localidades do Brasil e do mundo.
Outro destaque é o abono assiduidade, que prevê a concessão de um salário de bônus aos trainees que tiverem um baixo índice de faltas ao final de cada ano do programa.
Desde a primeira edição do programa, mais de 500 pessoas se tornaram trainees da Ambev. “Grande parte dos nossos trainees viraram diretores e vice-presidentes da Ambev. Essa é uma grande porta de entrada para a formação de líderes”, finaliza Ilana.
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Em 2021, a Alcoa, uma das três maiores empresas de alumínio do mundo, realizava seu primeiro programa de trainee do Brasil. E, apesar de bastante recente, a multinacional já colhe bons frutos do projeto.
Isso porque, ao longo das duas edições realizadas entre 2021 e 2022, todos os 30 novos trainees que participaram foram efetivados após os 18 meses de programa, em posições que vão de pleno até liderança.
No programa de trainee da Alcoa, os participantes têm oportunidades práticas de desenvolver a carreira com a realização de projetos de impacto, que geram resultados para as áreas.
“Nossos trainees recebem treinamentos de coaching, mentoring e participam de trilhas de desenvolvimento específicas desenvolvidas pela Academia Alcoa e parceiros externos. Além disso, precisam ter experiência prévia de, no mínimo, dois ou três anos”, afirma Deyves Ribeiro, supervisor regional de Early Talent (Novos Talentos) da Alcoa.
Para atrair os melhores talentos, a Alcoa também investe em um pacote de benefícios competitivo que inclui, entre outras coisas, curso de idiomas e acesso a um programa de apoio psicológico, financeiro e jurídico.
Porém, o destaque fica por conta da oferta de programas de aceleração de carreira para trainees que são parte de grupos sub-representados. Por meio da iniciativa, profissionais que se identificam como mulheres, pretos e pardos, pessoas com deficiência e profissionais LGBTQIAP+ recebem treinamentos e mentorias personalizados.
“O objetivo é promover diversidade, inclusão e equidade em um ambiente plural e acolhedor, baseado em confiança e troca de experiências entre diferentes perfis profissionais. Esse é o nosso diferencial em relação ao mercado”, salienta Deyves.
Não existe uma receita que funcione para todas as empresas. É preciso analisar uma série de pontos para oferecer um pacote de benefícios competitivo. Confira algumas dicas:
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